segunda-feira, 20 de abril de 2015

Cordéis feitos por mulheres para outras mulheres

Todos os cordéis de Jarid Arraes

Ano passado, quando fui selecionada para participar do I Seminário Nacional Mulher e Cultura em Salvador, pude conhecer a Salete Maria, cordelista e professora da UFBA. Ela recitou alguns de seus cordéis feministas e eu me apaixonei. Mas, quando ela me deu alguns de presente, aí me apaixonei em dobro e desde então a acompanho pelo blog Cordelirando.

Mas não são sobre os cordéis da Salete Maria que eu vou escrever e sim sobre os cordéis da Jarid Arraes. Uma mulher negra, jornalista, feminista e dona do blog Questão de Gênero no Portal Fórum. Seus cordéis me encantam -- apesar de nunca ter lido nenhum -- pois trazem problemáticas do cotidiano da maioria das mulheres.

Foto: Jarid Arraes
Só que nesta última semana, ela lançou cordéis biográficos de mulheres negras que fizeram história no Brasil, mas que não são lembradas e muito menos reconhecidas pela história. Enfim, eu comprei três cordéis com ela, mas só dois são biográficos. São eles: "Dandara dos Palmares", líder do quilombo dos Palmares e companheira de Zumbi; "Carolina Maria de Jesus", negra, favelada e escritora, autora do livro “Quarto de Despejo – Diário de Uma Favelada”; e “A Mulher que Não Queria Ser Mãe", que muito me interessa pelo simples fato de eu não desejar ser mãe até momento.

Pois bem, assim que meus queridos e aguardados cordéis chegaram, lerei e farei uma breve resenha sobre cada um.

domingo, 19 de abril de 2015

Pobre por opção?


A professora de Telejornalismo II recomendou que a turma assistisse ao documentário Notícias de Uma Guerra Particular, para que discutíssemos em sala sobre os aspectos jornalísticos ou não do filme. Mas, como era de se esperar, a discussão foi além das técnicas e teorias da comunicação e levou a temas como redução da maioridade penal, racismo, pobreza e meritocracia.

Apesar de chocada com a quantidade de colegas que defendem a redução da maioridade penal no Brasil com base nas notícias prontas dos grandes veículos de comunicação, tentei entendê-los e não voar na garganta de nenhum. Mas, a discussão foi ficando mais tensa do que já estava e aí alguém falou sobre o fato de ser negro, pobre e favelado não influenciar em nada na vida profissional da pessoa.

Explicarei melhor: segundo alguns colegas, nascer preto, pobre e na favela não é desculpa para não estudar e não ter um emprego. Claro, é fácil falar quando você e nenhum parente seu passou fome. Mas eu nasci preta, pobre e no morro. Eu tenho pais que ficaram sem comer para que eu e minha irmã tivéssemos o que comer. Eu tenho um pai que ia para o colégio sem comer, porque queria estudar. Eu tenho um pai que é o único com ensino médio entres seus irmãos e primos, e é o único funcionário público da minha família até então.

Eu tenho parentes que tiverem de escolher entre estudar ou ir trabalhar para ter o que comer. E isso é direito básico garantido a qualquer ser humano, mas afinal, só não estuda e não trabalha quem não quer, não é verdade? Acho fácil uma pessoa que nunca passou por dificuldades financeiras, no conforto da sua vida, falar sobre ser fácil ou não a vida de quem já nasce destinado a ser marginalizado pela sociedade, que excluí pobres e negros sem dó alguma.

Ah, vale lembrar ainda: sou a primeira da minha família a entrar numa universidade e serei a primeira a concluir a graduação. Não foi fácil, não é fácil e sei que não será fácil. Eu quero mais: quero outro curso, agora numa universidade pública; quero um mestrado; quero um doutorado e quero ser a próxima funcionária pública da minha família.

Eu tenho histórias de “sucesso” na família, mas a proporção é desproporcional (desculpem a redundância). Para cada dez pessoas sem estudo, apenas uma estuda. A sociedade não é justa com os pobres e é muito mais injusta quando o pobre é negro. Não sejamos hipócritas, meu povo! Racismo e preconceito contra pobres existem e eles estão tão internalizados, que passam despercebidos pela maioria de nós.

Ninguém gosta de ser pobre. Ninguém gosta de passar fome. Ninguém gosta de não ter como presentear os filhos ou filhas no Natal. Ninguém quer nascer pobre. Ninguém quer passar a vida sendo pobre e morrer pobre. Desta forma, convenhamos que não é fácil deixar de pobre, ok? Até porque, se fosse tão fácil assim, não existiriam pobres no Brasil, não é? Basta usar a cabecinha com o cérebro lindo que Deus deu e pensar.


Enfim, não quero defender quem se acomoda com a vida a qual foi destinado, mas afirmar, sem conhecimento nenhum de causa, que nascer preto e pobre não é motivo para não estudar e não conseguir “bons empregos” ao longo da vida, eu não admito. Pois é sim! Agora, quero ver alguém subir o morro e conhecer a vida dos pobres de verdade. Mas, julgar é mais fácil e sempre será.

Dois pesos, duas medidas?



Hoje eu vi fotos da Dona Laura, senhora que foi agredida pela Verônica Bolina – a travesti que ficou “famosa” após divulgarem sua foto desfigurada e sem permissão por toda a internet. Tanto as fotos da senhora agredida quanto as da travesti me chocaram, pois nenhuma das duas merecia ser agredida de tal maneira.

E o que eu mais vi foram comentários do tipo “Ah, a travesti mereceu a surra que levou. Olha o que ela fez com esta senhora!”. Eu só irei explicar uma vez: a Polícia Civil, a Polícia Militar e os agentes penitenciários não são treinados para espancar ou torturar ninguém. Independente do sexo, gênero, cor e etnia. Ninguém merece apanhar: nem a idosa e nem a Verônica. Nenhuma das duas, apenas isso.

No Brasil existe o Código Penal, advogados e juízes para que a lei seja cumprida. Logo, policiais e agentes penitenciários não são os detentores do saber para julgar se a pessoa presa deve apanhar ou não por causa do crime que cometeu. É simples, mas é tão complicado as pessoas entenderem isso na era de puro ódio que existe na internet.

Acredito que seja mais fácil julgar do que entender que a Verônica não está certa e deve ter o seu crime investigado e julgado por um juiz. Mas nem por isso está correta a surra que deram nela dentro da cadeia e muito menos o fato de a terem colocado na ala masculina do presídio.

Enfim, falta entender que neste caso há duas vítimas: a dona Laura, que foi agredida dentro de casa, segundo ela e há também a Verônica, que foi agredida num presídio. No entanto, vale ressaltar: nenhum crime deve justificar o outro. 

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Eu sou Verônica

#SomosTodasVerônica

Ontem eu vi uma foto da Verônica Bolina, que não postarei aqui, pois acho desnecessário, travesti que foi espancada e desfigurada por policiais de São Paulo sem nenhuma explicação válida até o momento. Eu me choquei com a imagem, mesmo sem saber que ela havia cometido um crime. Chocou-me o fato de terem a exposto nua, desfigurada e com a cabeça raspada como se fosse um troféu da polícia, como se aquela imagem fosse prova do bom serviço que eles têm prestado a toda a população.

Não basta ser negra, não basta ser travesti, não basta estar à margem da sociedade por conta da sua identidade de gênero. Não, é necessário que ao ser presa, a mesma seja colocada numa cela cheia de homens heterossexuais, exposta a todo e qualquer tipo de violência sexual. Tem que ter o cabelo raspado e a intimidade exposta para todo o Brasil e mundo. 

Será que é tão difícil entender que aquele ser é um SER HUMANO? Acredito que não...

Antes que algum leitor ou leitora ache que eu estou defendendo uma criminosa, deixarei uma coisa bem clara: direitos humanos são direitos que toda e qualquer pessoa tem direito. Aí alguns dirão: “Ah, mas ela bateu numa idosa.”. Eu respondo: No JORNALISMO e no DIREITO ninguém é culpado até que se prove o contrário, por isso, nem adianta vir com esse tipo de conversa que não cola comigo. E outra, até agora eu não vi nenhum depoimento da idosa ou de parentes da mesma acusando a Verônica do crime de agressão.

Ainda existe outro fato interessante sobre o caso: o G1 publicou uma matéria com apenas a versão da polícia, sem fala de nenhum parente da Verônica ou advogados e ainda a trataram com o pronome masculino. Na boa, será que eu preciso explicar a diferença de um homem cisgênero para uma mulher travesti/transexual a um jornalista de um portal da Globo? Sério mesmo? Eu realmente espero que não!


Pois, ao usarem um portal de alcance nacional e mundial para veicularem uma notícia que só fere os direitos individuais de uma pessoa transgênero, a Globo e o seu portal G1, conseguem prestar um enorme desserviço a toda parcela LGBT no Brasil. É como se gritassem que de nada vale a luta dos gays, lésbicas, transexuais e travestis no Brasil. Ao utilizarem um pronome masculino para se referirem a uma pessoa que não se identifica com o gênero, é ajudar explicitamente a perpetuação da intolerância e desrespeito para com os que são “diferentes” do que se é aceito nesta sociedade machista, homofóbica e transfóbica. 


"A mídia demonstra ser “violenta” ao veicular informações superficiais, com carência de substancialidade; nas notícias de variedades, nos talk shows; nos programas de auditório; nos programas de cunho investigativo, que buscam única e exclusivamente a audiência sob o véu falacioso da justiça, do ajudar pessoas. Submetida ao lucro e à audiência, a mídia promove um sensacionalismo implícito ou explícito. Porém presente. Sempre presente. Nessa realidade, a informação que lança mão de aspectos de natureza sensacionalista promove a “violência”." (CRUZ, Fábio Souza, 2004, p. 4-5)

sábado, 11 de abril de 2015

Livrai-nos de todo o machismo. Amém!


Minha irmã chegou do culto da igreja comentando como foi e tal. Até que ela contou que todo mundo ganhou presente, mas ficou chateada com a divisão que foi feita: homens ganharam sabonetes da Natura e mulheres panos de pratos decoradinhos.

O mais estranho de tudo isso é que nesta igreja não existe um líder, mas sim uma líder, uma mulher, uma pastora e ainda assim coisas deste tipo acontecem. E pior ou tão ruim quanto, é que segundo a minha irmã, provavelmente as mulheres de lá acham super normal receber tal tipo de presente.

E isso não quer dizer que eu seja contra a mulher que deseja ser dona de casa. Eu sou contra a imposição do papel de dona de casa à mulher. Homem tem que lavar os pratos e enxugá-los com os panos de pratos decorados também. Afinal, todo mundo come, não é?

Meça seus julgamentos, parça!


Há alguns meses, li no Facebook um post de alguém super indignado em relação aos casais que alteram o status de relacionamento nas redes sociais assim que começam a namorar. E ainda postam fotos diárias com o namorado/namorada em todas as redes sociais, para que o mundo inteiro saiba que eles estão bem e felizes. Vale ressaltar, que o post ainda enaltecia os casais que vivem felizes no anonimato e não expõem a relação na internet.

E eu só consegui pensar numa única coisa: quem és tu ou quem sou eu para julgar o que deve fazer ou não o casal que começou a namorar?

E eu respondo agora mesmo: eu não sou ninguém para julgar os casais alheios. (E você também não é ninguém para fazer tal coisa)

Fico estarrecida quando leio coisas do tipo pelo Facebook. Pessoas querendo impor o que as outras devem ou não fazer para serem aceitas na sociedade. Eu, quando não gosto das postagens de algumas pessoas, as deixo de seguir, e continuo amiga. É tão fácil fazer isso, nem dá trabalho.

Esse negócio de ser dono da verdade absoluta é tão século passado. Hoje, com a internet, ninguém sabe de nada verdadeiramente. Todo mundo quer falar, todos querem ser lidos e ouvidos, e com isso surgiu um grupo de super intelectuais que entendem de tudo e de todos, e por isso, acham que podem julgar a tudo e todos. 

Eu só digo uma coisa: meça seus julgamentos, parça!

terça-feira, 7 de abril de 2015

Parabéns, parabéns para mim!

Foto: Anabel Mascarenhas - Bolo Frozen
Hoje o post é de pura felicidade. Pois ontem eu recebi a festa surpresa mais linda de todos os tempos. Meus amigos, os melhores que existem, me fizeram uma festinha linda com bolo de Frozen e velinhas de Elsa, Ana e Olof. Quem, aos 22 anos, tem festa temática da Frozen? Só eu, meu povo!

Ah, como eu amei a festa. Senti-me amada, especial e percebi que existem pessoas que se importam comigo tanto quanto eu me importo e me preocupo com elas. Apesar de saber de tudo isso, a festa abriu meus olhos e me fez enxergar que existe uma vida maravilhosa longe dos meus problemas diários e que ela está pronta para ser vivida por mim.

Foto: Anabel Mascarenhas
Não posso deixar de lembrar que ganhei presentes lindos e que são a minha cara: meu namorado me deu o perfume que eu mais amo no universo e que já tinha desistido de comprar, porque sempre me faltava dinheiro. 

Meu amigo João fez meu bolo de Frozen e estava absurdamente delicioso. Tharcio me deu um vestido que é a minha cara. Parece até que foi eu que escolhi. E a minha professora querida Anabel, me deu um lenço/turbante para cabelo da Dendê Prints, com estampa feita à mão pela filha dela – que eu considero uma artista.
Minha amiga Jamille, conseguiu arrancar lágrimas dos meus olhos com um texto lindo cheio de coisas boas e declarações para mim - ela não é muito de fazer isso, então é uma prova de que me ama demais hahaha. E eu já li e reli o texto várias vezes de tanto que eu gostei.

Amei todos os meus presentes, abraços e mensagens carinhosas.

Enfim, foi ótimo o meu aniversário, e citando “Meu Aniversário” da Vanessa da Mata, finalizarei o meu texto, pois resume tudo o que eu quero a partir de hoje para a minha vida...
  

“Hoje eu escolhi passar o dia cantando
De hoje em diante
Eu juro felicidade a mim
Na saúde, na saúde, juventude, na velhice
Vou pelos caminhos brandos
A minha proposta é boa, eu sei
De hoje em diante tudo se descomplicará
Com um nariz de palhaço
Rirei de tudo que me fazia chorar
Cercada de bons amigos me protegerei
Numa mão bombons e sonhos
Na outra abraços e parabéns”

Meu Aniversário - Vanessa da Mata

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Músicas de mulheres para mulheres

Janis Joplin

Hoje eu vou falar sobre algo que eu gosto muito: música. Apesar de não saber tocar nem uma tampa de panela na outra, eu sou muito musical. Gosto de variados estilos musicais e sempre que posso escuto algo novo. Mas, a lista de hoje será de músicas feministas que estão na minha playlist e não sairão tão cedo.

A primeira da lista será a maravilhosa Pitty, baiana, mulher arretada e rockeira. A música super feminista dela que eu amo é a “Desconstruindo Amélia”, que nem é necessário uma análise profunda para entender que ela faz referência a música “Ai, que saudade da Amélia”, gravada por diversos artistas e que faz referência a tão sonhada “mulher de verdade”, que lava, passa e cozinha sem reclamar. Aí a Pitty fez o favor de desconstruir este estereótipo, expondo pontos marcantes como a desigualdade salarial e o acúmulo de funções que a mulher é obrigada a ter.



Pink com “Slut Like You” me conquistou, pois já acompanho o trabalho dela há alguns anos e gosto da maioria das suas músicas, mas esta, em especial, chama atenção pelo fato dela dizer “Ok, sinto lhe informar, mas sou tão vadia quanto você. Não quero nada sério”. E tudo isso num tom de brincadeira com fundo de verdade. Enfim, eu amo esta música e vivo escutando. É interessante a forma com que a Pink aborda um assunto tão polêmico com uma música que dá vontade de sair dançando e cantando o refrão bem alto.



Não poderia faltar Beyoncé nesta lista, não é? A Beyoncé gravou um CD ultra-mega-power feminista e eu escolherei duas músicas para colocar aqui. A primeira é “Grown Woman”, onde ela deixa bem claro que ela é uma mulher crescida, e portanto, pode fazer o que ela quiser. E isto é válido para todas as mulheres adultas: façam o que vocês quiserem. 

A outra música bem legal é “Flawless”, que nem precisa de muita explicação, já que tem até parte de um discurso da Chimamanda Ngozi Adichie sobre o feminismo.


Vanessa da Mata em seu último CD "Segue o Som", dentre todas as músicas legais que o compõem, tem uma que me conquistou, que foi "Toda Humanidade Nasceu de uma Mulher". Onde ela canta a mais pura verdade ao afirmar que "toda a humanidade nasceu de uma mulher".



A última música, mas não menos importante é “Hard Out Here” da Lily Allen, que ficou afastada do mundo musical por alguns anos e voltou com tudo. Nesta música ela deixa bem claro algumas questões do tipo: não vou para a cozinha, pois você não me achou lá. Se eu disse que transo com vários, me chamarão de puta, mas quando um homem faz o mesmo ninguém reclama. Ela aborda questões do cotidiano de várias mulheres ao redor do mundo.




Acho incrível o poder que a música tem de ampliar horizontes e nos fazer perceber coisas que até então não tínhamos conhecimento. A música, além de uma ferramenta de lazer e relaxamento pode e deve ser uma arma contra os diversos tipos de preconceitos que existem em nossa sociedade.