quarta-feira, 17 de junho de 2015

Da série: racismo existe

Dany Braga em campanha para a Riachuelo

A nova coleção primavera/verão da Riachuelo é inspirada no Marrocos, país localizado no extremo noroeste da África. Até então tudo bem. Nada novo sob o sol. Mas, a loja não se atentou aos detalhes contidos na fotografia que postou no seu perfil do Instagram para divulgar a coleção: a modelo embranquecida, com lentes azuis e um turbante que não faz parte das roupas típicas que usam no Marrocos, mas sim de países da costa oeste e sul do continente africano.

Dany Braga com sua cor natural e sem lentes azuis

O tiro no pé que a Riachuelo deu, foi certeiro. Minutos após a publicação da imagem, mulheres negras comentaram explicando o porquê de repudiarem a imagem. Coisas que nem precisariam ser explicadas, caso os publicitários contratados pela loja pesquisassem sobre a cultura africana corretamente.

A apropriação cultural há alguns meses atrás, não passava de besteira para mim, mas ao começar estudar sobre o assunto, pude perceber que a cultura negra está sendo apropriada e não é com boas intenções. A cultura afro é marginalizada desde sempre. Professores se recusam a ensiná-la nas escolas, pois afirmam que é coisa do diabo.

Mas, então, por que usar turbante pode? Por que trançar um cabelo liso pode? Por que encrespar um cabelo naturalmente liso pode? O turbante, assim como outros artigos, faz parte da cultura negra e é considerado um símbolo de resistência, pois as escravas eram proibidas de mostrar seus cabelos “ruins”. Os brancos não mereciam ver negras com seus cabelos crespos. Era uma afronta. Mas, a moda que diz que o padrão de beleza é branco, se apropria de um símbolo de resistência da cultura negra e vira tendência.

A partir do momento que um determinado objeto é inserido na moda vigente, ele vende. Gera lucros e empresas - as mesmas que rejeitam negros nas entrevistas de emprego - crescem. A apropriação cultural, que chamam de moda e homenagem, vai muito além do uso ou não turbante por uma mulher branca. É questão de conscientização. Basta se questionar: por que numa pessoa negra o turbante é "coisa de macumbeiro" e numa pessoa branca é moda?

"Homenagem" da grife Adriana Degreas no SPFW 2012

Moda passa. A resistência em ser negro persiste. Homenagear a cultura afro se apropriando de símbolos não é homenagem. Soa apenas como ironia. Nada além de ironia. O sofrimento do negro escravo e o sofrimento do negro que, ainda hoje, vive à margem da sociedade e sofre racismo todos os dias, não se resolve com homenagem, mas sim com respeito.


2 comentários:

  1. Se apropriam do que é conveniente!
    Arrasou no texto, muito esclarecedor!

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  2. Parabéns, ótimo texto! O preconceito com o negro tá inserido de tal forma na sociedade que pra ela isso é algo banal ; mas não é!

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