Dany Braga em campanha para a Riachuelo |
A nova coleção
primavera/verão da Riachuelo é inspirada no Marrocos, país localizado no
extremo noroeste da África. Até então tudo bem. Nada novo sob o sol. Mas, a
loja não se atentou aos detalhes contidos na fotografia que postou no seu
perfil do Instagram para divulgar a coleção: a modelo embranquecida, com lentes
azuis e um turbante que não faz parte das roupas típicas que usam no Marrocos,
mas sim de países da costa oeste e sul do continente africano.
Dany Braga com sua cor natural e sem lentes azuis |
O tiro no pé que a
Riachuelo deu, foi certeiro. Minutos após a publicação da imagem, mulheres
negras comentaram explicando o porquê de repudiarem a imagem. Coisas que nem
precisariam ser explicadas, caso os publicitários contratados pela loja pesquisassem
sobre a cultura africana corretamente.
A apropriação cultural há
alguns meses atrás, não passava de besteira para mim, mas ao começar estudar sobre o assunto, pude perceber que a cultura negra está sendo apropriada e não é com
boas intenções. A cultura afro é marginalizada desde sempre. Professores se
recusam a ensiná-la nas escolas, pois afirmam que é coisa do diabo.
Mas, então, por que usar
turbante pode? Por que trançar um cabelo liso pode? Por que encrespar um cabelo naturalmente liso pode? O turbante, assim como outros artigos, faz parte da cultura negra e é considerado um símbolo
de resistência, pois as escravas eram proibidas de mostrar seus cabelos “ruins”.
Os brancos não mereciam ver negras com seus cabelos crespos. Era uma afronta.
Mas, a moda que diz que o padrão de beleza é branco, se apropria de um símbolo de resistência da cultura negra e vira tendência.
A partir do momento que um determinado objeto é inserido na moda vigente, ele vende. Gera lucros e empresas - as mesmas que rejeitam negros nas entrevistas de emprego - crescem. A apropriação cultural, que chamam de moda e homenagem, vai muito além do uso ou não turbante por uma mulher branca. É questão de conscientização. Basta se questionar: por que numa pessoa negra o turbante é "coisa de macumbeiro" e numa pessoa branca é moda?
"Homenagem" da grife Adriana Degreas no SPFW 2012 |
Moda passa. A resistência em
ser negro persiste. Homenagear a cultura afro se apropriando de símbolos não é
homenagem. Soa apenas como ironia. Nada além de ironia. O sofrimento do negro
escravo e o sofrimento do negro que, ainda hoje, vive à margem da sociedade e sofre
racismo todos os dias, não se resolve com homenagem, mas sim com respeito.
Se apropriam do que é conveniente!
ResponderExcluirArrasou no texto, muito esclarecedor!
Parabéns, ótimo texto! O preconceito com o negro tá inserido de tal forma na sociedade que pra ela isso é algo banal ; mas não é!
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