Na tarde do último
domingo, dia 24, saí com minha irmã para fotografar. Ao entrar no ônibus,
percebi um casal, em que apenas o homem estava conversando e a mulher parecia
muito irritada, sem deixar de olhar pela janela do ônibus. Ele aparentava estar
bêbado e achei que, talvez por isso, ela estivesse irritada com ele.
Sentei e passei a observar
os dois. Ele assediava a garota de um jeito nojento e asqueroso. Querendo tocá-la,
falando que ela parecia com as atrizes de certa novela e muitas outras coisas que
não conseguia ouvir, mas entendia que a estava incomodando. Outros homens
perceberam a situação, pois estavam próximos a eles dois. Era impossível não
ouvirem e entenderem que a garota estava sendo assediada.
Mesmo com todos vendo a situação, ninguém fez nada. Eu não fiz nada. Minha irmã não fez nada. Mas não
fizemos porque estávamos acomodadas com o fato de não ser com a gente, mas sim por
medo. Se os homens e outras mulheres, que já estavam no ônibus antes de nós
duas, nada fizeram para defender a moça que estava sendo assediada, com certeza
não iriam fazer se o homem nojento nos agredisse se fôssemos lá defendê-la dos assédios, não é?
A sensação de impotência
diante daquela situação me acompanhou durante todo o domingo e eu achei que
iria sumir, mas não, ela continua aqui me lembrando de que sou mulher, a
sociedade é machista e sentir medo de outros homens faz parte da minha
realidade. Queria ter livrado aquela mulher dos assédios daquele homem, mas o
medo de tornar a situação em algo pior me consumiu. O medo de ser agredida, de minha irmã ser agredida e do homem também agredir aquela moça acabou com todo o empoderamento que, enquanto mulher feminista, eu achei que tinha.
Ele desceu do
ônibus e ainda foi tentar tocá-la pela janela e a cobradora ainda riu da
situação. Sim, ela achou engraçado. A famosa sororidade que me desculpe, mas só
consegui sentir ódio daquela mulher. A situação nada tinha a ver com feminismo,
era apenas sobre ter empatia. Não custava se colocar no lugar daquela moça e
entender que aquela situação não foi engraçada, pois se ele pudesse com certeza
teria feito coisas piores.