quinta-feira, 7 de julho de 2016

Resguardar-se


"Quando fico nervosa não gosto de discutir. Prefiro escrever. Todos os dias eu escrevo. Sento no quintal e escrevo.", escreveu Carolina Maria de Jesus em seu livro Quarto de Despejo: diário de uma favelada. Resolvi iniciar este texto com o seguinte trecho, pois assim tenho estado nos últimos meses.

Mais cedo, li o texto de uma ex-professora e amiga sobre “esconder” a parte triste de nossas vidas nas redes sociais e apenas postar as coisas boas. E tenho feito justamente isso nos últimos meses, porque a parte triste está tão triste que não tenho vontade de compartilhar nem com quem é próximo, muito menos postar no Facebook. Quem só me conhece virtualmente e não tem intimidade comigo, jura que sou uma pessoa zoeira, que é feliz e adora postar coisas sérias com um tom irônico.

Mas, infelizmente, situações conturbadas têm acontecido em minha casa desde o início do ano. Meu pai decidiu parar de fazer as compras de alimentos, higiene e qualquer coisa que eu, minha mãe ou irmã precisemos. Então, é óbvio que passamos alguns dias bem apertados com quase sem comida em casa. Não chegamos a passar fome, mas houve dias que não existia nada para tomar café da manhã/noite e alguns dias que ficamos sem carne, feijão e coisas do tipo.

Além disso, há todo o desgaste emocional. Quando penso nas dívidas, nas coisas que estão em falta aqui em casa, no meu futuro profissional, na minha desilusão com a profissão, sou tomada por uma intensa tristeza, apesar de estar cercada de um namorado maravilhoso, família compreensível, bons amigos e colegas de trabalho. É uma sensação que, por mais feliz que eu esteja, chega e toma conta.

Por conta dessas sensações, que tenho sentido mais intensas nos últimos meses, evito discutir sobre pautas políticas seja do feminismo ou do movimento negro. Apesar de parecer fácil, tomar uma decisão desse tipo requer muito esforço e determinação. Tanto que, vez ou outra, me pego discutindo com quem não quer aprender, apenas fazer valer o seu argumento como verdade absoluta. E lá se vai todo o meu esforço para me manter com uma saúde mental, minimamente, estável. No entanto, não desisto, sigo me policiando para evitar desgaste com tretas virtuais.


Às vezes, tento vencer todo o pessimismo, e pensar que, daqui uns dias, tudo estará resolvido. Terei paz em casa, não precisarei passar noites sem dormir direito por ter medo de quem mora na mesma casa que eu, não irei me preocupar com o café/almoço do dia seguinte. Porém, enquanto este dia tão aguardado não chega, sigo escrevendo sobre as coisas que me irritam, alegram ou me chateiam. Pois é melhor escrever a discutir com quem não merece minha atenção.

2 comentários: